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Elza Soares

Hoje, 20 de janeiro de 2023, faz um ano que perdemos Elza Soares, grande ícone da música brasileira. Carioca da gema do Engenho de Dentro, cresceu em condições bem complexas. A potente voz rouca e a criatividade para compor canções já a acompanhavam desde criança em meio às condições de vida extremamente desfavoráveis. Vítima de um casamento arranjado e precoce aos 12 anos, com um amigo de seu pai, foi mãe ainda na puberdade, aos 13 anos. Seu segundo filho viria logo depois. Contudo, faleceram com poucas semanas de vida, desnutridos. O terceiro filho, João Carlos, sobreviveu foi entregue à adoção. A prole foi extensa: Gerson, Gilson, Sara e Dilma, sendo que esta última foi sequestrada com um ano de idade. O casamento foi permeado por violências e abusos, um contexto do qual ela se libertou somente aos 20 anos quando ficou viúva. Começou a se aventurar na música em uma época em que clubes não recebiam cantoras negras. Atuava como podia: concursos de rádio, performances em eventos, participação em grupos musicais e turnês. Seu reconhecimento no meio artístico começou a se consolidar após o lançamento do segundo álbum e com a apresentação que fez na Copa do Mundo em 1962, no Chile, quando representou o Brasil e conheceu Louis Armstrong. Na época, namorava o famoso jogador de futebol, Garrincha, o qual era casado. Isto rendeu muita perseguição por parte da imprensa e da sociedade em geral. Ele foi um grande amor na vida de Elza. O casamento veio após o divórcio dele e a relação durou mais de dezessete anos, em uma dinâmica bem passional e delicada, permeada por violências físicas. Desta união teve mais um filho, Manoel Francisco – o Garrinchinha, que morreu aos nove anos de idade em um acidente de carro. A carreira seguiu e o século XXI foi mais compassivo com Elza; em 2000, ganhou o prêmio de “Melhor Cantora do Milênio” pela BBC e, em 2002, uma indicação ao Grammy. Em 2018, duas grandes homenagens impulsionam novamente sua carreira: o lançamento de sua biografia, em forma de livro, pelo jornalista Zeca Camargo e a produção do premiado documentário que narra sua história – My Name is Now. Em 60 anos de carreira, foram mais de 35 discos onde samba, jazz, eletrônica, hip hop e funk sustentaram seus acordes únicos.  Apesar da saúde debilitada, Elza cumpriu seu sonho de cantar até morrer aos 91 anos. Fica nossa homenagem a essa força da natureza que ainda nos emociona com sua voz e trajetória!
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