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En-hedu-Ana

A partir de hoje iniciamos uma nova linha de editoria, buscando reconhecer e homenagear o trabalho de mulheres que abriram caminhos e romperam padrões.

Nada melhor do que iniciar por En-hedu-Ana, astróloga, sacerdotisa, poeta e filósofa acadiana, cuja singularidade é absoluta: a primeira escritora autoral (assinava as obras) que se tem registro.

Filha de Sargão da Acádia e da rainha Tashlultum da Suméria, foi a primeira mulher a deter o título de EN, um papel de grande relevância política. Era a alta sacerdotisa do templo de Nanna, deus da Lua, na cidade suméria de Ur. Sua vida é bem documentada em artefatos arqueológicos como selos, estátuas e um disco de alabastro, encontrado por Leonard Woolley (arqueólogo inglês) quando este fazia escavações naquele local (1927).

Com uma ativa participação política e sacerdotal, organizou e presidiu o “coração da cidade”, um complexo de edificações religiosas. Apesar de ter enfrentado uma revolta social e de ter sido expulsa, voltou após um período de exílio e permaneceu muito tempo nas suas atividades.

Compôs 42 hinos que foram copiados muitas vezes e restituídos, posteriormente, a partir de placas de argila. Grande parte desta obra esta disponível em língua inglesa graças ao trabalho de Samuel Noah Kramer e Diane Wolkstein.

Suas obras mais conhecidas são “A amante de grande coração”, “A exaltação de Inanna” e “Deusa dos poderes temíveis”. “Ao juntar o ciclo menstrual ao ciclo da lua em um ritual mensal”, escreve Diane Wolkstein, “as partes selvagens, assustadoras e desordenadas da vida são incluídas em uma ordem previsível e tranquilizadora”.

Na língua portuguesa, temos o trabalho de Gleiton Lentz (EN-HEDU-ANA. Senhora de todos os me’s: exaltação a Inanna/Nin-me-šara) e, mais recentemente, “Antes da poesia ser palavra era mulher” (Guilherme Flores e Adriano Scandolara).

O legado literário de Enheduanna fortaleceu a cultura e manteve a unidade religiosa do povo daquela região. Desde ’80, muitos trabalhos acadêmicos, análises psicológicas e feministas se seguiram. Em 2015, a UAI nomeou uma cratera em Mercúrio em homenagem à ela. Nada mais alegórico.

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