Arte & manifesto: a canção como instrumento de luta na voz de Joan Baez
Joan é uma inspiração e um exemplo de como é possível ser pacifista e combativa simultaneamente. Difícil separar a artista da ativista social. Ou vice-versa. Estes aspectos se mesclaram de forma indelével no seu modo de se apresentar ao mundo. Ao longo de sua marcante carreira profissional, transitando por vários estilos (folk, pop, gospel…), sempre cantou o direito das pessoas de serem quem são, apenas isto. Temas como a justiça, o respeito, o reconhecimento das desigualdades sociais… estiveram presentes no seu repertório de uma maneira pungente, poética e constante. As vivências de exclusão social em sua infância e juventude contribuíram neste sentido, já que era uma “mestiça” aos olhos de uma cultura norte-americana tradicional.
Filha de um pai mexicano e de uma mãe escocesa (realmente, uma mistura explosiva), Joan foi percorrendo caminhos um tanto inusitados desde muito jovem. A mescla de espiritualidade e comprometimento social estava muito presente em seu lar de origem, uma vez que seu pai tinha uma ligação com a UNESCO.
Aos quinze anos ela, ouviu, pela primeira vez, uma palestra de Martin Luther King Jr sobre não violência e direitos civis e foi neste ano, também, que ela comprou o seu primeiro violão. O semblante do destino se fez notar, pois a semente lançada pelas palavras do reverendo caiu no solo fértil do seu coração. Ou, dito de uma outra maneira, desvelou o dharma que norteava os passos daquela mulher e que iria se delinear nos próximos anos, como consequência das decisões tomadas na adolescência: florescia, ali, a jovem cantora ativista que tanto iria surpreender o mundo com suas músicas e atitudes.
Aos vinte e dois anos, ela já era conhecida como a “rainha do folk” e acompanhou Luther King em muitas manifestações públicas. Como uma bela representante da Vênus matutina, enfrentava ostensivamente (talvez de um modo temerário até) todos os cerceamentos sociais da época. Em muitas ocasiões, nestas passeatas, era acompanhada por sua mãe. Em 1964, estava na linha de frente contra a guerra do Vietnã, contra o serviço militar obrigatório e, ainda, recusou-se a pagar a percentagem que o governo federal usava do imposto de renda do cidadão americano para os gastos militares (o quelhe valeu um processo que durou mais de uma década). No ano seguinte, cofundou o Instituto da Não-Violência na Califórnia (EUA) com Ira Sandperl.
Joan dedicou toda a sua existência a causas humanitárias e participou de praticamente todos os movimentos internacionais que tinham como bandeira a defesa dos direitos humanos. Viajou para os mais diferentes países emprestando sua voz como um tributo à defesa daqueles que não tinham vez. (Faço um parêntese para sugerir que acessem o site pessoal da cantora bem como leiam as suas duas autobiografias (uma escrita nos tempos de juventude, outra na maturidade).
A ênfase nos elementos Terra e Fogo de sua carta natal já nos dão uma pista do que seria um temperamento no qual o espírito de luta se alia à tenacidade. Além disso, observe que Joan faz parte das gerações que nasceram sob os auspícios de uma conjunção de Júpiter e Saturno em signos de Terra (e, no seu caso, na casa I (uma casa voltada para a identidade e autoafirmação) e em trígono com o Meio do Céu). Estas conjunções ocorrem a cada vinte anos e estão correlacionadas com uma reorientação política, econômica, filosófica e sociocultural. Sabe-se que as pessoas que nascem sob estas conjunções fazem parte de um grupo geracional que traz como potencialidade a revisão dos paradigmas sociais de seu tempo, indivíduos que podem vir a ser os porta-vozes de mudanças e/ou questionamentos, os catalisadores dos redirecionamentos culturais.
Temos, aqui, um caso contundente de uma mulher que encarnou de forma exemplar o arquétipo de uma Vênus matutina no mundo contemporâneo. De certa maneira, ela obedecia a uma orientação interna, oriunda de sua própria alma, no momento em que convida o coletivo a questionar os valores vigentes, os princípios ideológicos legitimados, buscando a ética e a inclusão como elementos constituintes das relações e da própria organização social.
Hoje, 09 de janeiro de 2024, está completando 83 anos de uma existência que incorpora, verdadeiramente, sua carta astrológica natal.
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