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Marieta (da paixão) Severo

Marieta (da Paixão) Severo, seguramente, é uma mulher intensa e verdadeira, que não teme a maturidade que o envelhecimento traz nem, tampouco, as transformações que vêm com o passar dos anos.

Recentemente, ao ser convidada para protagonizar a campanha “Setembro em flor”, que alerta sobre diferentes tipos de câncer ginecológico, ela afirmou que precisava usar sua voz ativa para falar de temas fundamentais. Afinal, o câncer do colo do útero apresenta proporções alarmantes no país, com aproximadamente 17.000 novos casos/ano, 7.000 óbitos/ano. Dados que nos indicam que, a cada 90 minutos, uma mulher morre por câncer do colo do útero no Brasil.

Sua estreia simultânea no teatro (1965 – As bruxas de Salem), no cinema (Society In Baby-Doll) e na televisão (1966 – O Sheik de Agadir) já deu o tom do que seria a multifacetada trajetória profissional (afinal, ela tem Sol conjunto a Júpiter em Escorpião e Lua em Aquário). Sua fala assertiva já vai situando o interlocutor: “para mim não existe esse negócio de “ser” do teatro, ou do cinema, ou da televisão. Quando se escolhe um trabalho pela crença na sua qualidade e não pelo potencial comercial, não importa se é dentro do estúdio, sobre um palco ou numa locação.”

Tendo conhecido Chico Buarque também em 1965, logo tornaram-se parceiros de sonhos e de cama. Em 1968, atuou no musical Roda Viva, escrito por ele, espetáculo que era uma crítica aberta ao regime militar, o que colocou-os na mira da segurança nacional. Marieta estava grávida quando o casal foi para Roma lançar um álbum de Chico e, diante do momento conturbado que o Brasil vivia, decidiram ficar na Europa por dois anos em autoexílio.

Em 1970, retornam ao Brasil e ela retoma a carreira de atriz, dedicando-se, especialmente, a projetos de teatro e cinema até 1983, conciliando o ofício com a criação das três filhas pequenas. Depois de Silvia, que nasceu em 1968, chegou Helena em 1971 e, em 1976, Luísa. O casamento acabou depois de 33 anos, mas a amizade entre Chico e Marieta, não.

Tempos depois, em 2004, casou-se com o diretor teatral Aderbal Freire Filho, o qual faleceu recentemente.

Marieta coleciona mais de cinquenta prêmios como melhor atriz em diferentes atuações, fora premiações por papéis coadjuvantes, homenagens e troféus dos mais variados. São mais de trinta produções para a TV, trinta e quatro para o teatro e quarenta e sete filmes nos gêneros mais variados, contemplando romance, humor e personagens profundamente dramáticos. A tal versatilidade aquariana em ação.

A amizade com Andréa Beltrão teceu um ato de resistência artística admirável: em junho de 2005, inauguraram o Teatro Poeira, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Projeto pouco convencional, já que privilegia a liberdade de criação, traz o inusitado para os palcos, foge das “peças de sucesso” dos teatros comerciais e expande o palco para a praça, oferecendo programas de estudo e de pesquisa, de troca de saberes, “estimulando os movimentos comprometidos com a busca incessante de um teatro vivo.”

Marieta nasceu no dia 2 de novembro de 1946, no Rio de Janeiro. Quando criança, seu sonho era ser bailarina, tendo estudado balé clássico durante anos. Entretanto, a vida tinha outros planos para essa mulher inquieta e questionadora.

Hoje, ao mesmo tempo, em que lamenta a retirada do apoio institucional nos projetos sociais oferecidos pelo Teatro Poeira – isso inviabilizou o que, antes, era oferecido de forma gratuita à população, reflete sobre o etarismo e alerta: “Jovens, olhem-se menos no espelho. Tenho certa preocupação em como serão os egos. Fico vendo as crianças, os adolescentes, e penso: o que vai acontecer na vida dessas pessoas que ouvem o tempo todo que são maravilhosas e incríveis?! A vida é feita de aprovações e desaprovações. Lidar com frustrações é importante. Tenho a impressão de que não há mais espaço para frustração”, disse.

Lúcida e apaixonada pela vida (como seu sobrenome sugere), pondera que é muito feliz com as escolhas que fez, quando a vida lhe deu a chance de escolher. E acrescenta: “O que deixei de fazer não era para mim.” Palavras sábias de quem já percorreu setenta e sete primaveras, literalmente.

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