No dia 15 de fevereiro de 1905, nascia em Maceió (Alagoas) Nise da Silveira, uma mulher que revolucionou a forma como compreendemos a saúde mental. Filha de um professor e de uma pianista, Nice escolheu cursar a Faculdade de Medicina da Bahia e foi uma das primeiras mulheres a se formar como médica no Brasil em 1926. Casou-se com um colega de faculdade, Mário Magalhães da Silveira. Decidiram não ter filhos e, assim, dedicaram-se totalmente à profissão.
Em 1927, o casal se mudou para o Rio de Janeiro e, logo após concluir sua especialização em psiquiatria, Nise começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha. Em 1930, começa a militar no Partido Comunista Brasileiro, sendo uma das poucas mulheres que assinaram o “Manifesto dos trabalhadores intelectuais ao povo brasileiro”. Denunciada por uma enfermeira, foi presa em 1936, ficando dezoito meses em reclusão.
Somente em 1944 foi reintegrada ao serviço público e passou a atuar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, local em que desenvolveu uma abordagem autoral e inovadora para tratamento dos pacientes, indo contra a corrente da época que preconizava métodos agressivos de tratamento como isolamento, eletrochoques e lobotomia.
Nise criou um espaço de terapia ocupacional em que disponibilizava ferramentas para trabalho artístico aos internados, auxiliando, dessa maneira, que se expressassem simbólica e criativamente. Ao perceber o quanto os materiais produzidos auxiliavam a falar sobre a realidade de cada indivíduo e reduziram fortemente crises que viviam, ela aprofundou os estudos neste campo. Também iniciou uma correspondência com o psiquiatra suíço Carl G. Jung, o qual acabou lhe auxiliando na interpretação dos desenhos e debateu suas teorias com ela.
Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, que abriga, até hoje, um importante acervo com cerca de trezentas e cinquenta mil obras produzidas por pacientes com transtornos mentais. Por este trabalho, recebeu uma série de condecorações, títulos e prêmios, além de inspirar a fundação de instituições similares em diferentes partes do mundo.
Ela faleceu em 1999, aos noventa e quatro anos, por insuficiência respiratória. Uma mulher sensível e empática, que nos ensina muito sobre o poder do afeto e da arte na saúde mental. Obrigada Nise!