Tarsila do Amaral é, até hoje, uma das pessoas mais icônicas da arte brasileira.
Nascida no interior de São Paulo, foi uma mulher altamente erudita e que conseguiu expressar uma visão de Brasil muito original e, ao mesmo tempo, realista. Sua contribuição para a cultura vai muito além do Movimento Modernista Brasileiro, a artista é uma referência internacional.
Tarsila estudou desenho e pintura em diferentes escolas na Espanha e França e, quando voltou para sua terra natal, criou raízes através de um trabalho autoral e único. Suas telas marcadas por cores fortes e contrastantes, cenas cotidianas do povo brasileiro e da vida nas matas ajudaram a nutrir o imaginário do nosso país com criatividade e alegria. Com maestria técnica e um olhar altamente sensível para a biodiversidade nacional e os dilemas sociais vividos durante a primeira metade do século XX, Tarsila nos lançou um convite empático e elegante de olharmos com atenção para nosso próprio valor, dando origem ao Movimento Antropofágico.
Foi perseguida e presa por sua atuação política, pois expressava seus ideais socialistas e almejava a conquista dos direitos trabalhistas aos operários e camponeses brasileiros. Foi a primeira pessoa a organizar as coleções de artes do país, tendo trabalhado na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sua versatilidade criativa se expressou em ilustrações dos livros de Oswald de Andrade (seu primeiro marido) e como colunista no periódico “Diários Associados”, onde fazia retratos de grandes personalidades.
Viveu momentos bem dramáticos como o falecimento da única neta, Beatriz, por afogamento em 1949 e a perda da filha, Dulce, em 1966, devido a complicações da diabetes. A vida amorosa também lhe trouxe desilusões quando foi envolvida em uma triangulação com Oswald e Pagu. Além disso, sua saúde ficou bem debilitada no outono da existência, pois ficou paraplégica devido a um erro médico, durante uma cirurgia na coluna, aos 76 anos. Faleceu em São Paulo, no dia 17 de janeiro de 1973, devido a muitas complicações e agravamentos nos já existentes problemas de saúde.
Vale ressaltar que sua produção, abrange mais de duzentas e trinta obras. A artista participou de diversas exposições, inclusive bienais nacionais e estrangeiras, tornando-se um expoente da arte latina-americana. Sua obra “Abaporu” segue sendo a pintura mais cara da produção artística brasileira, avaliada em 1,5 milhão de dólares, estando exposta no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba).
Em 2018, o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque realizou uma exposição individual de seu trabalho. Suas obras e seu legado seguem correndo o mundo devido à dedicação de sua sobrinha, Tarsilinha do Amaral. Em 2021, Tarsilinha lançou a exposição “Tarsila para Crianças”, apresentando o trabalho da tia com todo seu esplendor multifacetado de fauna e flora exuberantes e coloridas, adaptado em uma linguagem educativa para o universo infantil. Apesar da pandemia vigente, teve grande aceitação e aderência por parte de todos que estavam famintos de arte, beleza e um pouco de contato humano – um pequeno oásis para alimentar a resiliência exigida naqueles tempos sombrios.
Para além de uma grande pintora, Tarsila foi uma mulher notável que caminhou firme ao encontro de si mesma.